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Qual o momento certo para se trocar o amortecedor?

Matéria

08 Agosto de 2023

Parece ser uma pergunta simples, mas na prática não é tão simples assim.

Outras peças do automóvel possuem sinais mais evidentes de desgaste. O pneu por exemplo, possui o chamado TWI, que é uma marcação na banda de rodagem e quando alcançada a substituição é recomendada. A pastilha de freio possui uma espessura mínima de trabalho que pode ser verificada a olho nu ou por sensores. Os óleos e fluídos costumam seguir critérios relacionados a quilometragem ou tempo de uso para serem esgotados e substituídos.

Já o amortecedor possui complexas características e a sua vida útil depende de variados fatores.

Antes de mais nada, vamos conhecer um pouco mais do amortecedor. Ele é uma peça hidráulica que tem como uma das suas principais funções fazer o controle do movimento das molas de suspensão de acordo com o projeto determinado pelos fabricantes, gerando estabilidade e conforto. O amortecedor tem aproximadamente quarenta componentes entre retentor, haste, guia de haste, tubo de pressão, tubo reservatório, mola, válvula de base e válvula da haste, onde em cada uma dessas válvulas existem aproximadamente dez arruelas de aço inox que controlam o fluxo da passagem de óleo entre os orifícios das válvulas, gerando a carga de compressão (fechamento) e extensão(abertura) do amortecedor, pois é desta forma que o amortecedor absorve as oscilações das molas.

Agora como já conhecemos o básico do funcionamento do amortecedor e seus componentes, vamos para o tema principal dessa abordagem: O Momento de troca do amortecedor quando o desgaste é aparente como vazamento, travamento, empeno na estrutura ou na haste, folga excessiva na haste, dessa forma fica fácil de se identificar. Mas quando não se tem a característica visual, como saber a hora de troca? O amortecedor pode estar com o funcionamento comprometido sem apresentar essas características de desgaste visual! Aí as coisas começam a complicar, pois o amortecedor pode estar com a pressão de trabalho prejudicada ou com folgas internas, entre outras. Para fazer essa análise temos que desmontar o amortecedor para fazer uma inspeção dele na bancada. Mas existe um agravante, nós não conseguimos simular com exatidão o funcionamento do amortecedor quando ele é desmontado, pois as forças exercidas no amortecedor com o veículo em movimento são impossíveis de serem simuladas na bancada por um mecânico, uma vez que as válvulas do amortecedor têm vários estágios de pressão de acordo com a força e a frequência a que ela é submetida. Quando o mecânico faz o movimento de abertura e fechamento do amortecedor com ele desmontado numa bancada ele mal consegue simular o primeiro estágio do amortecedor, pois isso só seria possível com o uso de um dinamômetro apropriado para esse fim. Outra dificuldade é replicar em bancada os numerosos movimentos que o amortecedor é submetido quando está em uso. Impossível reproduzir essa frequência numa bancada a mão. Nesses casos nos resta usar o conhecimento analisando indicadores junto a experiencia de campo.

O principal indicador é a quilometragem de rodagem do veículo, consequentemente do amortecedor, mas sempre levando em consideração o modo de uso do veículo. A indústria sugere que se deve dar uma atenção especial aos amortecedores a partir dos 40.000 Km rodados, pois a indústria e os órgãos reguladores afirmam que a cada quilometro rodado o amortecedor faz em média 2.600 movimentos, então, fazendo-se uma conta simples, quando o veículo atinge 40.000km, o amortecedor faz em média cento e quarenta milhões de movimentos. Sendo assim, isso significa dizer que é comum que o amortecedor passe a perder performance, pois haverá desgaste natural nos seus componentes internos, principalmente nas válvulas. Contudo, isso não significa dizer que o amortecedor vai estar ruim, mas vale salientar que por mais que o veículo trafegue pela mesma via, cada roda do mesmo eixo passa por diferentes obstáculos, dessa forma, ao longo de sua vida útil, os amortecedores do mesmo eixo tendem a ter um desequilíbrio na sua carga de trabalho, influenciando negativamente na dinâmica veicular. Sendo assim, é sugerido dar uma atenção especial e a partir dos 40.000km fazer o acompanhamento mais de perto a cada 10.000 km rodados, sempre atento e buscando indícios de desgaste nos componentes auxiliares e ruídos que possam vir a surgir.

Por esse motivo alguns fabricantes sugerem a troca dos amortecedores aos 50.000km como uma troca corretiva, pois ele já entende que a falta de performance e o desequilíbrio entre os amortecedores do mesmo eixo se intensificam ainda mais, oferecendo risco ao condutor.  No dia a dia, no pátio da oficina, observamos veículos chegarem aos 80.000Km e o condutor muitas das vezes tem a percepção de que os amortecedores estão bons, afirmando que o veículo está macio e nada o incomoda. Em condições normais de uso dificilmente o condutor vai perceber, até mesmo porque o desgaste dos amortecedores acontece de forma lenta e gradativa, fazendo com que o condutor venha se acostumando com os amortecedores desgastados. Mas falando em situações excepcionas, como frenagem de emergência ou desvios acentuados em alta velocidade, e o veículo não estando em perfeitas condições, esse pode ser um fator decisivo em provocar um acidente ou não.

Sendo assim, o diagnostico dos amortecedores envolve uma análise complexa. Além dos sinais visíveis de desgaste, o conhecimento técnico de funcionamento do amortecedor, dos componentes que o constitui e a experiência de campo são cruciais.